Registro de ações e entrevistas
Catadoras de Santa Maria desfilam bijuterias feitas de PET em fórum de artesanato
Marianna Rios
Especial para o Correio
Uma ideia e um pouco de empreendedorismo foram o bastante para mudar a vida de 40 mulheres da Associação dos Trabalhadores, Recicladores, Ambientalistas e Desenvolvimento Agrícola de Santa Maria (Astradasm).
Há seis anos, a diretora social e cultural da cooperativa, Aliomar Rita Souza Oliveira, 50 anos, promove reuniões com o grupo para a produção de bijuterias feitas de materiais reciclados, as biojoias.
As peças são desenhadas por Aliomar e produzidas pelas catadoras. Colares, pulseiras, gargantilhas e arranjos para o cabelo usam como base papel reciclado e, há dois meses, o grupo explora uma nova matéria-prima, as garrafas PET.
O plástico é moldado com velas e água quente até ganhar forma de pequenos discos. A partir deles, a imaginação das, agora, artesãs cria flores e formas assimétricas para compor as bijuterias.
A transformação de lixo em peças elaboradas é capaz de aumentar a renda das famílias. Enquanto o quilo de uma garrafa PET vale R$ 0,70, um colar — que utiliza, em média, quatro garrafas — custa R$ 40.
“Pode-se pensar que, com o artesanato, estamos perdendo material para a reciclagem. Mas, na verdade, estamos agregando valor ao material”, avalia Ronei Alves de Lima, presidente da Central de Cooperativas de Materiais Recicláveis do DF (Centcoop).
Nesses seis anos, o grupo já participou do evento de moda Capital Fashion Week e do Salão de Turismo de São Paulo, e recebeu proposta de exportar as bijuterias para a Itália. “O retorno que nós esperamos é mais auto-estima, reconhecimento e visibilidade, é que os outros saibam que nós existimos”, afirma a diretora social e cultural da cooperativa.
Do trabalho braçal no galpão de reciclagem direto para a passarela sob a luz dos holofotes. Foi assim que 20 catadoras da Astradasm e de outras cooperativas do DF, escolhidas para serem as modelos, exibiram as delicadas peças em um desfile na terça-feira (8), no Fórum de Artesanato e Cooperativismo do DF.
As bijuterias feitas de PET receberam acabamento especial para o evento: pérolas, cordas e miçangas. “A base do trabalho é o PET, mas colocamos alguma coisa para compor e quebrar a rústica desse material”, explica Aliomar.
“Vamos participar do evento até o último dia [quinta-feira]. Pensamos em sair daqui com mais capacitação, mais conhecimento sobre o artesanato e aprender como fazer projetos”, diz Aliomar. O fórum é realizado pela Secretaria de Trabalho e pretende criar os conselhos de Artesanato e do Cooperativismo no DF, além de anunciar o programa Prospera — que prevê uma linha de microcrédito para artesãos e cooperativas.
Lixo vira artesanato e brinquedo na semana de ct
Postado em 19 de outubro de 2012
Papelão, pedaços de cano, sacos de cimento e restos de madeira se transformam em vasos decorativos, flores ornamentais e brinquedos no estande da Central de Cooperativas de Materiais Recicláveis do Distrito Federal (Centcoop) na Semana Nacional de Ciência e Tecnologia(SNCT), em Brasília. O espaço, no Pavilhão de Exposições do Parque da Cidade (ExpoBrasília), foi dividido em um centro de triagem de reciclagem e numa sala para oficinas de artesanato.
Parte do material separado no centro de triagem e passível de ser reaproveitado é utilizado na produção dos objetos artesanais. O restante é acondicionado para ser encaminhado a empresas de reciclagem. O projeto é desenvolvido em parceria com a Fundação Banco do Brasil (FBB).
A iniciativa se enquadra no conceito de Cidade Sustentável da semana de Brasília e da temática do evento nacional, coordenado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).
Oficinas
O estande da Centcoop na SNCT no ExpoBrasília pode ser visitado até domingo, dia 21. Orientado pelas próprias catadoras, o público pode participar das oficinas e confeccionar flores ou, ainda, o bilboquê (brinquedo que consiste em uma esfera de madeira, com um orifício central, presa por uma corda numa espécie de suporte).
A gente tem tido uma receptividade muito boa no evento, afirmou Aliomar Oliveira, presidente da Associação de Trabalho dos Recicladores, Desenvolvimento Agrícola e Ambientalista de Santa Maria (Astradasm), entidade que funciona na cidade de Santa Maria (região administrativa do DF), onde atuam 65 catadores nos trabalhos de coleta e artesanato.
Conscientização
Participam das atividades na SNCT sete catadoras de diferentes cooperativas do Distrito Federal. Segundo Aliomar, que atua há 18 anos como catadora, a participação em eventos como a Semana é uma nova realidade que surgiu a partir da maior conscientização ambiental da sociedade e da integração dos trabalhadores da área.
Antes de sermos da Centcoop, a luta era individual, cada um por si. Hoje somos organizados e temos a consciência do nosso papel na sociedade. Conhecemos os nossos direitos e corremos atrás deles, disse.
A maior conscientização e o reconhecimento da importância da profissão trouxeram também retorno financeiro. Hoje tenho minha casa própria, meu carro, meus quatro filhos estudam e vivem muito bem, acrescentou Lúcia Nascimento, da Cooperativa de Materiais Recicláveis da Cidade Estrutural.
Reconhecimento
Para a catadora Maria de Socorro de Souza, da Associação de Catadores de Papéis do Plano Piloto (Acoplano), há 30 anos neste segmento, uma das maiores mudanças verificadas, nos últimos dez anos, foi em relação ao preconceito da sociedade.
Antes tinha mais preconceito. As pessoas nos conheciam como catadoras de lixo, mas hoje somos coletoras de recicláveis, concluiu. É verdade! Aqui [na semana], por exemplo, as crianças perguntam sobre o nosso trabalho e ficam curiosas; outros nos parabenizam, concordou a catadora Lúcia Nascimento.
Mas para as catadoras, apesar do reconhecimento, a população ainda não compreendeu muito bem a importância da coleta seletiva. Consciência do que é lixo molhado e lixo seco e que separar esse material antes facilita o nosso trabalho e evita acidentes e a contaminação. A luta é grande, mas esperamos que um dia a coleta seletiva seja finalmente implantada, ressaltou Maria do Socorro.
Texto: Denise Coelho Ascom do MCTI
Catadoras de materiais recicláveis fazem manifestação - 24/04/2012
Na manhã desta terça-feira, dia 10, mulheres atuantes em cooperativas de produção estiveram reunidas em manifestação na Praça dos Três Poderes. A Passeata das Mulheres Catadoras aconteceu no mesmo momento em que foi realizado em Brasília o Congresso Internacional das Mulheres, que trouxe líderes femininas de várias partes do mundo para debater direitos civis das mulheres.
De acordo com Aliomar Rita, diretora social da Astradasm e coordenadora do movimento, o grupo criou um documento que foi entregue por meio de uma Comissão Especial à presidente Dilma.
No documento o grupo pede o reconhecimento da profissão de catadora com direito à aposentadoria similar às agricultoras, que trabalham diariamente no sol e, com isso, tem desgaste maior. Foi solicitado, ainda, o direito ao período de maternidade. Atualmente, como não há reconhecimento da profissão, as lactantes precisam retornar o quanto antes ao trabalho para garantir a sobrevivência. O grupo quer que a discussão entre na pauta do Congresso Nacional.
Das cooperativas do DF participam representantes da Reciclo, Cooperfênix, Apcorb, Coorace, Recicla Brasília, Construir e Superação.